No próximo Sábado, 02 de Junho (2018), a Selva do João Alves instala-se na CódigoDesign. Venha explorá-la connosco a partir das 16:00.

“Segundo a lógica, a porta de entrada dirige-nos a um espaço que termina assim que atravessada a porta de saída. Mais comumente, a mesma porta tem dupla função, tanto serve para entrar como para sair.

Através do universo concebido à imagem e semelhança de João Alves entra-se directamente pela porta de saída, animado pelo quotidiano e costumes de seres de corpos e almas ambiguamente ectotérmicos-ovipários-aeroespaciais (todos de domínio taxonómico Eukariota) peregrinos de solos férteis em pousio e migrantes para além da troposfera e da mesosfera, por quase humanos e eventualmente por um Homem e às vezes uma Mulher, por anjos caídos divertidos com a sua própria atracção pelo Caos, pela Mãe Lua e o Pai Sol e demais Astros Irmãos deste Cosmos e Outros.

São apontamentos da intemporalidade da condição humana deste mundo nosso a pinceladas acrílicas mais ou menos toscas, às vezes mais outras vezes menos, naquele jeito naife aparentemente controlado, através de símbolos e formas que por tradição canalizam forças profundas. São cenas grotescas e brutescas e até delicadas de criaturas daqui e outras quiméricas, algo semelhante ao universo de Hieronymous Bosch, que pintava os homens mais por dentro do que por fora, que dava a ver os medos do seu tempo, o Inferno e a noção de que o Diabo está em toda a parte, enquanto que o João (Bosch)* sublinha que também está dentro de nós, ou dele, pelo menos, com referência a cenas do seu próprio quotidiano, sempre em oposição ao outro lado, ao que é bom, ao que dá prazer e faz bem, mesmo que não apareça na tela. Mesmo que a perceptibilidade seja barrada, o baile das dualidades não cessa, como no mundo mesmo.

No seu conjunto, da sua obra, observando-a a uma certa distância e para lá da sala de exposições, apercebermo-nos de um enorme auto-retrato do tamanho da sua própria vida e mais, executado ao longo de anos em catarse diária e exaltando-nos com a versatilidade da obra disponhamo-nos a jogar: baralhamos e colocamos cada quadro numa posição determinada em relação aos outros para assim sacar a mensagem que precisamos receber, como num jogo do Tarot, o verdadeiro.

O Retorno, regressar ao ponto de partida (o antes de sermos intersectados pelos seus quadros, o antes de entrar pela porta de saída), passa a ser uma possibilidade quântica: fica entregue aos que lhes foi concedido o poder de manter a Grande Ordem. Não é Fatalidade, é Benção. Benzidos fomos por nos ser permitido ver o que não queremos ou não podemos enxergar a olho nu nos caminhos e curvas do labirintho da Inconsciência (o outro lado) por ferramentas interditas à lógica.

*a palavra Bosch, que era o apelido do pintor holandês, significa Bosque ou Selva. Numa resolução anagramática a palavra Selva (outrora usada como seu pseudónimo) resulta em Alves, o apelido do nosso pintor portuense.”

Cecília de Fátima